Uma das historias mais
bonitas do meu pai aconteceu numa tarde chuvosa... Nos estávamos em casa quando
alguém veio nos avisar em casa... Dona Ana a senhora vai ter que buscar seu
marido... Porque ele esta bêbado demais e ele não consegue voltar pra casa... Está
caído lá na padaria... Lá no centro... Eu me recordo que eu era muito
pequenininho e imediatamente me levantei pronto pra resolver a situação...
Foi eu, minha mãe e um
irmão mais velho... Eu me recordo que quando nos chegamos lá meu pai estava
caído... Na sarjeta mesmo... A bicicletinha dele... Ele era pedreiro... Estava
caído de lado e ele na sarjeta... Tinha chovido e aquele barro que forma quando
você tem uma enxurrada...
Ele ali misturado... Eu
me lembro que o primeiro sentimento que me veio... Foi de vergonha... Eu tinha
medo que algum colega meu pudesse passar... Pudesse ver meu pai naquela situação...
Eu me lembro que nos tiramos ele dali com pressa, muita pressa, levamos ele pra
casa, demos um banho nele pra que ele pudesse voltar a ser o meu pai, o meu pai
era um homem muito bom, justo, honesto mas viveu uma época com o problema do
álcool,
Superou graças a Deus,
morreu sem nenhum problema, mas aquela tarde fica registrada na minha memoria,
de um jeito muito intenso porque ela representa pra mim uma aula de teologia
que a faculdade nunca me ensinou...
E bonito você
reconhecer o amor que você tem por uma pessoa no momento em que ela não esta no
pódio... E fácil amar a pessoa no momento da vitória... No momento em que há
razoes pra ser amada... Nos momentos que o outro faz tudo errado mesmo assim
seu coração se mobiliza pra continuar elegendo como seu... Eu aprendi que Deus
e assim...
Que mesmo no momento
da nossa sarjeta, a feição dele por nos não passa... Não termina... Porque o
amor que deus tem por nos... Não passa pela logica da utilidade... Pela logica
do mérito... Passa pela logica do significado... Não e mérito... Não precisa
ter... Depois de tanto tempo vivido eu identifico que o sentimento que me
ocorre... Que me ocorreu naquele momento... Não era de vergonha... Era de indignação...
Porque a indignação e você ver a pessoa certa no lugar errado...
(trecho do DVD Padre
Fabio de Melo – Eu e o tempo)
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